Eliane Aquino marca a história de Aracaju como primeira prefeita do município

Assistência Social e Cidadania
24/02/2017 15h13

O ano era 1932 e o Brasil começava a engatinhar a passos tímidos para o que seria um dos pontos mais importantes da história de suas mulheres: o direito ao voto. Um voto que não falava apenas sobre a escolha eleitoral, mas do poder de reconhecimento como indivíduo social com voz, opinião e representatividade. 

O ano é 2017. Oitenta e cinco anos se passaram e na manhã desta sexta-feira, 24, a vice-prefeita e secretária da Assistência Social e Cidadania, Eliane Aquino, foi empossada para o posto máximo do município como a primeira prefeita da história de Aracaju. A transmissão do cargo aconteceu em decorrência de uma viagem internacional a trabalho do prefeito Edvaldo Nogueira, que irá conhecer o Sistema Integrado de Trânsito Metropolitano (Sintram) em Monterrey (México). Com o mesmo propósito, Edvaldo ainda visitará os Estados Unidos, reassumindo o comando da capital sergipana no dia 6 de março.

Em uma feliz coincidência, Eliane Aquino esteve presente às comemorações da data, em evento realizado no Centro de Referência da Assistência Social (Cras) do bairro Santa Maria, para homenagear figuras importantes da comunidade, além de personalidades que fizeram a diferença na defesa da igualdade de gênero no Estado de Sergipe e em todo o país.  O encontro teve como objetivo reforçar a importância da participação ativa das mulheres como agentes de transformação.

De acordo com Eliane, uma honra que vai além da atividade como representante do poder público. "Há cerca de 16 anos, quando cheguei em Aracaju, Marcelo (Déda, então prefeito de Aracaju) me apresentou ao bairro Santa Maria e me estimulou a desenvolver projetos sociais nesse território. Aqui, conheci muitas mulheres guerreiras e hoje me sinto honrada em ter como primeiro ato como prefeita em exercício um diálogo com a comunidade sobre a participação feminina na política. Lutamos muito pela conquista do voto, mas ainda almejamos muito mais e precisamos continuar buscando uma maior igualdade de direitos entre os gêneros". 

A coordenadora do Cras, Joelma Moreira, destacou o valor da iniciativa que condecorou mais de trinta militantes. "Esta conquista, infelizmente, não tem muita visibilidade, mesmo nos tempos de hoje. O que vocês estão vendo aqui é uma forma que a gente tem de empoderar as mulheres e mostrar que somos fortes, de desmistificar a cultura machista, fortalecendo a nossa autonomia."

De acordo com a coordenadora de Políticas para as Mulheres, Maria Teles, o papel da Prefeitura de Aracaju, através da Secretaria da Assistência Social e Cidadania, é o de desenvolver uma governança para os grupos minoritários e abrir um debate com a coletividade. "Essa macro percepção eleva a autoestima, abre os horizontes políticos e dá fôlego para o combate das mazelas sociais. Então, não vemos outro caminho que não seja a mulher adentrar nesse cenário e fazer acontecer, à luz das nossas reais necessidades. Ninguém melhor do que nós mesmas para saber o que precisamos".

Representatividade importa

Limites para ser a primeira delegada negra do país, apenas os territoriais. Com um sonho de ser policial, Tereza Hermelino foi além das expectativas do que poderia ser um destino comum para uma mulher negra e de baixa renda. Principalmente no seu estado de origem, o Paraná, de maioria branca. Hoje, aposentada e há 16 anos residindo em Sergipe, em sua trajetória ela carrega as lembranças de um período de luta, determinação e a gratidão pelo dia de hoje. "Foi preponderante a minha luta porque eu não só abri caminho para a mulher negra, mas para todas que almejavam uma carreira como essa, coisa que não era permitida abertamente. Ainda hoje, em muitos estados, o preconceito é forte. Eu me sinto muito feliz de poder fazer parte da história, mas a nossa batalha ainda não terminou".

Militante, ativista, operante e líder comunitária do Santa Maria, Gilzenira Rodrigues, já não sabe ao certo há quanto tempo está envolvida nos trabalhos da Pastoral do Idoso na Paróquia Santa Cruz, mas entende que a sua religião é a do amor e a do compromisso em levar palavras de apoio e de esclarecimento para as mulheres da região. "Eu procuro sempre orientar aquelas que acham que não podem fazer nada sem a autorização do homem. Eu tenho 60 anos e sempre tive minha opinião de que devemos ser livres para usufruir dos nossos direitos".