Batucaps: percussão e ritmo como terapia para pessoas com transtornos psicossociais

Agência Aracaju de Notícias
18/04/2017 08h25

Oficinas de percussão e cantigas de roda têm integrado há quase um ano a rotina dos usuários do Centro de Atenção Psicossocial David Capistrano Filho, no bairro Atalaia. Duas vezes por semana o Batucaps, um grupo com cerca de 20 assistidos, utiliza a música e o ritmo como terapias no tratamento de diferenciadas formas de transtornos atendidos pela Rede de Atenção Psicossocial (Reaps) da Prefeitura de Aracaju.

Inicialmente eram apenas as aulas de Percussão, que acontecem toda segunda-feira pela manhã, mas com a resposta positiva dos participantes foi acrescentada a aula de Cantigas de Roda às quartas. É o que explica o músico responsável pela oficina, Alan Moncorvo, acrescentando que com o grupo fechado atualmente ele já consegue perceber a evolução musical de cada um. O objetivo é que não seja apenas uma brincadeira, mas que eles aprendam.

"A gente trabalha a questão de tempo e contratempo, a percepção deles, a dicção. Primeiro fazemos um laboratório corporal com palmas, que é justamente o dia das cantigas de roda, para poder dar continuidade ao trabalho e trazer o pulsar deles mesmos. A forma de ensino é com músicas que fazem parte da formação de cada um, os clássicos que todo mundo conhece, como Luiz Gonzaga, Luiz Melodia, Djavan, Caetano, Raul Seixas. E tento trazer um pouco da rítmica que eu trabalho, que é o samba-reggae, o afoxé, o baião, o maracatu e ritmos folclóricos também, como o cacumbi", informou o percussionista.

Um dos participantes, que antes mesmo da chegada do oficineiro já tinha organizado os instrumentos, é Arnaldo César. Ele não está com os demais desde  o início, mas comenta a satisfação em fazer parte do grupo. "Eu cheguei há pouco tempo, mas é o que está resolvendo os meus problemas. Eu gosto muito de música e ela é tudo para mim. Está me ajudando psiquicamente, meu psicológico está bem melhor depois dessa oficina", relatou.

Perspectivas

O coordenador da Reaps da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Dalmare Sá, informa que a proposta é conseguir, através de cultura, arte e artesanato, levar os usuários para os espaços públicos para que eles possam interagir com outras pessoas, além de fazer oficinas terapêuticas fora dos Centros de Atendimento. Segundo ele, isso é importante para aumentar a inserção social deles.

"A gente quer colocar cada vez mais o usuário da Saúde Mental dentro da sociedade para que ela possa perder esse estigma, o medo e o preconceito que existem, porque são usuários que não oferecem risco de fato. Eles precisam muito mais de afeto, de carinho, de espaço público para mostrar que eles realmente são cuidados", ressaltou.

O primeiro passo para levar o Batucaps para fora das instalações do Centro foi com a iniciativa do "Bloco Tô Chegando", desenvolvida por conta do Carnacaps - a festa de Carnaval realizada pela SMS nos Caps.

"Em fevereiro o Batucaps foi aos equipamentos e unidades de saúde convidando as pessoas a participarem do nosso Carnaval. A proposta foi muito aceita e por isso ele está sendo ampliando. Neste mês de abril, por conta do Dia Mundial da Saúde, a ação estará em algumas UBSs para fazer intervenção, movimentando um pouco esses locais", informou.

O Batucaps existe somente no Caps David Capistrano, mas as demais unidades da rede podem encaminhar os interessados para integrar o grupo. "A aceitação dos usuários foi muito boa, a resposta é totalmente positiva porque é uma troca. Vários deles já chegaram para dizer que só vieram à unidade pela aula. Tem a questão dos figurinos, que não se impõe nada, mas eles fazem questão de vestir. É uma forma de elevar a autoestima deles e esquecer um pouco as dificuldades do tratamento", conclui Alan Moncorvo.