Idosos exercitam a memória em oficina realizada pelo Nasf

Agência Aracaju de Notícias
20/04/2017 17h51

Aos 84 anos de idade, dona Maria Déa, ainda se recorda com muita nitidez, dos 23 anos dela, quando viu pela primeira vez o Carnaval bem de perto. Naquela época, nem imaginava que, passadas seis décadas, ainda lembraria com tanta riqueza daquela fase alegre de sua vida. Hoje, estimulada por uma equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), ela consegue exercitar a memória com atividades simples, mas que para ela e outras cerca de 20 pessoas, tem feito muita diferença. 

"Às vezes me vinha um branco e cheguei a pensar que ia esquecer de muita coisa que vivi, mas posso dizer que com 84 anos me sinto bem por recordar de tantos detalhes de momentos passados. Quando venho para a oficina, sou tão bem recebida que só posso ter vontade de voltar. Além disso, já sinto que estou melhor e isso tem me ajudado a superar os problemas em casa", contou.

A oficina que dona Maria Déa participa é a Oficina da Memória, desenvolvida por uma equipe do Nasf, a cada mês. Em janeiro deste ano, os usuários da Unidade de Saúde da Família Marx Carvalho, localizada no bairro Luzia, foram convidados a fazer uma avaliação individual. "Precisávamos traçar o perfil de cada idoso e em seguida aplicar as dinâmicas necessárias para estimular a memória deles. Nesse encontro, observamos a linguagem, percepção e memória de todos. A oficina seguirá até o fim do ano, quando faremos a reavaliação", explicou Denise Silva, psicóloga que faz parte da equipe do Nasf que conta ainda com nutricionista, fonoaudióloga e fisioterapeuta, além da parceria de enfermeiras e assistentes sociais da USF. 

Atividades

Na oficina do mês passado, os idosos a partir de 55 anos de idade foram instruídos a como aliar a alimentação com o desenvolvimento da memória. Já na segunda reunião, ocorrida neste mês, uma brincadeira de "o que é o que é", fez com que os usuários pudessem, através de dicas, estimular a memória visual. "Como a oficina ocorre somente de mês em mês, ensinamos os nossos idosos a desenvolver essas atividades em casa. Na primeira oficina, por exemplo, pedimos para eles memorizarem uma lista de compras. Assim, quando forem ao mercado, poderão praticar essa memorização", colocou a fonoaudióloga Arlene Damasceno. 

Romilda da Silva, de 66 anos de idade, também participa da oficina. Para ela, a atividade foi como um sopro de estímulo em uma fase da vida em que as coisas parecem ser mais complicadas. "Quando vamos envelhecendo, a nossa ideia é que muita coisa já não tem o mesmo gosto. Aí, quando encontramos um grupo de pessoas que nos ajuda a enxergar de outra forma, ficamos mais animados. Hoje, sinto que não vou esquecer tão cedo das coisas mais importantes", frisou.

Assim como dona Déa e dona Romilda, outras pessoas do grupo passaram pela mesma atividade na segunda oficina. Com a luz apagada, a psicóloga Denise Silva, pediu para que todos tentassem lembrar de um momento feliz que viveram até hoje. Dona Romilda, se recordou do dia em que nasceu a primeira neta dela. "Toda a nossa família estava reunida naquele dia. Lembro do rosto emocionado do meu filho e da emoção que senti quando segurei a minha netinha", relatou tentando controlar os olhos que já marejavam. 

Com 69 anos de idade, dona Mailda Gonçalves, precisa forçar um pouquinho a visão para ler algumas coisas, mas foi com facilidade que ela lembrou da infância, dos 19 anos em que passou casada e do nascimento dos filhos. "Lembro como se tudo isso tivesse acontecido ontem. Para mim, chegar à minha idade e ainda ter a lembrança bem guardada é um presente. Agradeço muito por poder participar da oficina", afirmou.

Foi justamente para não deixar que o tempo leve embora as memórias de tantas histórias que a Oficina foi pensada. "Ficamos o mês inteiro organizando as atividades que poderão ajudar a prolongar as lembranças dessas pessoas que tanto tem a contar e ensinar. São experiências de vida que não podem ser perdidas", finalizou a fonoaudióloga Arlene Damasceno.