Assistência realiza abordagem interativa sobre exploração sexual na Orla de Aracaju

Assistência Social e Cidadania
04/08/2017 10h58

O Brasil é considerado um território turístico devido às suas belezas naturais, ao povo hospitaleiro e ao clima aconchegante. Mas, mesmo com todas essas qualidades que tornam o país um lugar acolhedor, há um outro lado da moeda que é o turismo sexual, com recortes também para a exploração sexual de crianças e adolescentes. Como forma de conscientizar e coibir esta prática ainda tão real e presente na sociedade, a Secretaria Municipal da Assistência Social de Aracaju realizou na noite desta quinta-feira, 3, na Orla de Atalaia, uma abordagem interativa com turistas, visitantes e profissionais de bares e restaurantes.

“Já passamos por outras localidades, interagindo e chamando a atenção para falar que combater a exploração sexual de crianças e adolescentes é um trabalho de toda a sociedade. Enquanto nós não abrirmos os nossos olhos para fazer com que nossos jovens sejam protegidos, a gente não vai conseguir mudar muita coisa”, explicou a vice-prefeita e secretária municipal da Assistência Social de Aracaju, Eliane Aquino.

Eliane aproveitou a oportunidade para fazer um pedido público e um chamamento a toda a população.  “O papel que nós da secretaria da Assistência Social estamos fazendo com a sociedade e os empresários é o de conscientizar e pedir ajuda no cuidado das nossas crianças. Esta é uma ação que vai ocorrer durante toda a nossa gestão e eu venho aqui pedir que todos os aracajuanos se envolvam nessa luta. Seja não alimentando este sistema de exploração, seja sendo agente multiplicador ou denunciando”, pediu.

De acordo com a coordenadora do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) da Assistência, Lucimeire Amorim, as intervenções vêm dando resultados. “As equipes de abordagem têm identificado crianças e adolescentes, na região dos hotéis, em situação de exploração para finalidade sexual. Infelizmente, hoje não temos dados estatísticos de Aracaju, pois estamos em processo de construção desse diagnóstico. Mas os próprios serviços de abordagem e do sistema de garantia de direitos como Conselhos Tutelares, Ministério Público e Diretoria de Direitos Humanos da Assistência de Aracaju têm identificado isso através de notificações do público”, explica.

Para além da distribuição de panfletos e folders, os 30 profissionais presentes na ação fizeram abordagens individuais, incentivando o combate à exploração sexual e convidando as sociedade para rever estas atitudes que tanto colaboram com a alimentação de um sistema desigual. 

Atitude aprovada pela funcionária pública Gilmara Calaça. “Eu acho bem interessante essa ação, porque criança tem que estar na escola e se divertindo, não na rua ou sendo explorada. É importante que a gente entenda que as oportunidades precisam ser para todos, não apenas para o filho do rico ou de classe média”, ressaltou.
 
Já para o advogado Agnaldo Santos, conscientizar é o ponto chave. “Eu acredito que é com este tipo de trabalho que vamos conseguir desconstruir essa cultura de exploração infanto-juvenil para que as nossas crianças possam crescer felizes e saudáveis.”

Naturalização, cultura e patologia

A mercantilização da atividade sexual de crianças e adolescentes se dá por vários fatores, sendo alguns relacionados à situação familiar. Mas também se dá por várias outras questões externas a ela, como falta de expectativa de vida, problemas financeiros, demanda de mão de obra barata e, principalmente, questões culturais.

Mesmo diante do senso comum de que “lugar de criança é na escola” ou “crescendo feliz e saudável, a partir da garantia de direitos”, Andréia Dória, psicóloga e coordenadora do Serviço de Convivência da Assistência Municipal de Aracaju, explicou que a construção social é ainda muito latente no julgamento das pessoas.

“A criança e o adolescente ainda são seres que estão muito mais suscetíveis a este tipo de abordagem do que um adulto que está em uma outra fase de desenvolvimento e tem a sua visão crítica da situação, podendo avaliar suas decisões como de risco ou não, virando presa fácil. O prazer de pessoas que utilizam do serviço sexual de crianças e adolescentes consiste nessa prática que é naturalizada e considerada como patologia e também crime, pois se elas praticam e sentem satisfação, mesmo tendo consciência de que a atitude está errada.”