Grupo muda a vida de idosos e conclusão dos trabalhos é realizada em manhã especial

Agência Aracaju de Notícias
23/11/2017 13h45

O som de um grito animado, seguido de uma gargalhada ecoante pode representar o que significa o Grupo de Convivência Conte Conosco para os 55 idosos que hoje o compõem. Maria da Conceição, de 79 anos, é a dona da sonorização animada e foi com um sorriso que tomou um canto a outro do rosto que, na manhã desta quinta-feira, 23, ela se dirigiu ao Salão Paroquial da Igreja Nossa Senhora Aparecida, na Farolândia, e juntou-se a outras dezenas de idosos para a finalização de um trabalho realizado durante todo o ano através do grupo desenvolvido na Unidade de Saúde da Família (UFS) Augusto Franco, localizada no conjunto Augusto Franco. 

A conclusão do estágio de uma turma de estudantes de Educação Física que atua no grupo foi a deixa para que a equipe de Saúde da Família, do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) e do Programa de Saúde do Adulto e do Idoso decidissem se agregar e, juntos, realizar uma manhã especial com direito a café da manhã, entrega de certificados, brindes e cadernetas do idoso, uma conclusão de trabalho digna do grupo em que muitos dos participantes, antes de começarem a fazer parte dele, não conseguiam mais encontrar sentido para a própria vida. 

Dona Maria da Conceição é uma das poucas exceções entre os mais de 50 idosos que participam do grupo Conte Conosco. Ela sempre viu alegria na vida e, justamente por ser o sorriso que representa o grupo que ela se tornou um verdadeiro símbolo da transformação ocorrida com os demais. “Tem uns três anos que participo do grupo. Soube dele através de amigos e tenho muitos, por sinal. Quis fazer parte porque já tentava fazer alguns exercícios em casa e cuidar da saúde nunca é demais. Em casa eu já dançava com os meus cachorrinhos, agora eu danço e me divirto com todos os meus amigos do grupo também. Agora, melhorou mais ainda. Minha saúde está maravilhosa. Uma pessoa de 79 anos com uma pressão de 12/8. Nada me aborrece. Eu sou a mais velha e a mais nova do grupo. Meu namorado diz que eu sou uma meninona, levo a vida com alegria e é isso que gosto de passar e viver com os meus amigos do grupo”, disse ela, entre uma gargalhada e outra, à espera do seu certificado. 

A coordenadora geral do Nasf, Clesimay Evangelista Molina, explicou a intenção de promover a manhã especial. “Como somos o Núcleo de Apoio à Saúde da Família, a gente apoia as unidades básicas de saúde. Já são mais de dois anos que temos dado o suporte a esse grupo. Desenvolvemos um trabalho que a gente chama de ‘oficina da memória’. Muitos desses idosos já têm perda de memória e nós desenvolvemos ações em cima disso com temas ligados à alimentação e nutrição, área de reabilitação, e aproveitamos todas as categorias profissionais do Nasf para fazer o trabalho com o grupo semanalmente. Hoje é a finalização da turma de estágio da Unit de Educação Física e resolvemos fazer uma manhã especial, trabalhando integralmente com os demais programas voltados para a saúde da família e do idoso”, ressaltou. 

Erika Vanessa da Silva, fisioterapeuta do Nasf, contou que o evento é uma espécie de manhã de gala. “Decidimos aproveitar o encerramento da turma de alunos para fazer algo maior. Pensamos em fazer uma manhã de gala com entrega de certificados com a característica de cada um, e colocamos o tapete vermelho para realizar essa entrega como forma de reconhecimento por tudo o que eles representaram pra gente durante esse ano”, reforçou. 

Além dos certificados entregues, outro momento fundamental na manhã foi a distribuição da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, que é uma espécie de histórico da saúde do idoso. De acordo com Patrícia Rocha, coordenadora do Programa de Saúde do Adulto e do Idoso, a aquisição das cadernetas veio a partir de uma habilitação junto ao Ministério da Saúde. “Fizemos a solicitação e Aracaju recebeu 14.567 cadernetas. Enquanto programa, entendemos que elas deveriam ser entregues de forma qualificada. Decidimos ir até a unidade de saúde e nos unir a esse evento para apresentar a caderneta e mostrar a importância dessa que será um instrumento fundamental para o planejamento da linha de cuidado do idoso. Essa caderneta é como se fosse a biografia, o histórico deles. O nosso papel é de conscientizar o idoso de que ele tenha essa caderneta como um documento que deve ser levado para todos os lugares”, frisou Patrícia. 

Na caderneta constam informações sobre o estilo de vida do idoso, medicações usadas, cirurgias realizadas, diagnóstico, verificação de glicemia, atualização de vacinas e até a condição socioeconômica e tende a ser um instrumento que vai ajudar qualquer profissional a dirigir o cuidado para esse grupo específico da população. 

Conte Conosco

O grupo surgiu por volta do ano de 2009 e, se a ideia do “conte conosco” era fazer com que os idosos tivessem o apoio da unidade de saúde e dos programas da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), o “conosco” se ampliou e hoje é uma troca multilateral. Enquanto os idosos cuidam da saúde física e mental com as equipes que compõem o grupo, essas mesmas equipes aprendem com os idosos lições valiosas para a vida. 

Alessandra Melo, gerente da USF Augusto Franco, falou com entusiasmo do trabalho desenvolvido no “Conte Conosco”. “Muitos aqui viviam deprimidos, doentes, nem se comunicavam com a família e, depois do grupo e dessa convivência diária entre eles, o relato é de outra qualidade de vida que cada um tem. Inclusive, muitos diminuíram as idas à unidade de saúde por conta de pressão alta, por exemplo. Para quem acompanha esse processo é gratificante. Muitos tiveram uma vida sofrida e ver a evolução nessa fase da vida é de uma inspiração imensurável”, comentou. 

Idealizadora do grupo, Rosana Marques de Menezes é assistente social da USF Augusto Franco e contou que, no início, apenas oito idosos faziam parte do grupo, atualmente, 55 histórias de vida são cada vez mais sentido ao trabalho realizado. “Como também sou professora na Universidade Tiradentes (Unit), pedi parceria e também contei com o apoio da própria paróquia que nos cedeu o espaço para a realização dos encontros. Nós tínhamos idosos com depressão, alguns sequelados de AVC que não andavam, tínhamos idosos tristes que viviam isolados, alguns que nem sorriam. Aos poucos, fomos fazendo com esses idosos fossem se inscrevendo no grupo, gostando de fazer parte dele. É muito gratificante como profissional, como ser humano ver a alegria deles, como eles restabeleceram. É uma troca de amor muito grande. No grupo, nós exercitamos a cidadania, a educação para a vida, para o mundo”, destacou a assistente social. 

Através do trabalho realizado no grupo, os idosos são assistidos por toda a equipe da Saúde da Família do Augusto Franco que engloba uma série de serviços de assistência social, médica, psicológica, ortodôntica e vacinas. Com a parceria da Unit, o grupo se tornou um laboratório para os alunos de Nutrição, Farmácia, Direito, Serviço Social, Medicina, Biomedicina e Educação Física. 

Assim como dona Maria da Conceição, o senhor Damião dos Santos também faz parte do grupo, mas, ao contrário dela, antes de entrar no “Conte Conosco”, ele não tinha alegria em viver. A mudança começou a ocorrer há quatro anos. “Antes eu nem saía de casa, era muita tristeza. Eu só tenho o que agradecer por onde estou hoje. Antes de entrar para o grupo, eu trabalhava com reciclagem. Um dia cheguei em casa e não aguentei nem tirar as coisas de dentro do carrinho. Fui para a emergência e fiquei internado, cheio de aparelho, imaginei que estava acabado ali. Os médicos me disseram que eu tinha que me cuidar. Tenho hipertensão e problema no coração. Já tenho quatro anos no grupo e é como se eu tivesse ganhado outra vida. Gosto de tudo o que vivo aqui. Isso é uma família. Antes eu precisava vir acompanhado pelos meus filhos, agora venho sozinho e estou sempre cercado por pessoas maravilhosas e com a saúde muito melhor. Estou feliz”, desabafou entre os sorrisos de gratidão voltados para a assistente Rosana, quem o convidou para o grupo e ajudou durante o processo de restabelecimento. 

Há oito anos o senhor José Rodrigues, de 79 anos, descobriu que estava com câncer de boca, um período difícil que hoje a memória substituiu pela gratidão de estar vivo e fazendo parte de um grupo acolhedor. “Não foi difícil vim para o grupo. Como sempre estava no posto de saúde, logo fiquei sabendo da existência dele através de Rosana. Já tenho oito anos no grupo, eu e minha esposa. Até o atendimento no posto o processo é facilitado, já somos encaminhados direto. Só tenho alegrias por estar no grupo. Por todo o problema que já tive eu só tenho a agradecer. Hoje olho para a vida de uma maneira diferente”, relatou.