Experiências urbanas em Medéllin e Bogotá são tema de palestra na Esgap

Indústria, Comércio e Turismo
24/11/2017 17h17

Até o fim da década de 90 e início dos anos 2000, as cidades colombianas de Bogotá e Medellin eram referências mundiais em violência e narcotráfico, mas em pouco mais 12 anos, essa realidade foi revertida através de um processo de transformações urbanas e sociais. Para mostrar as experiências que fizeram com que a Colômbia saísse do caos e se tornasse referência em inovação e urbanismo, o diretor do programa Aracaju Inteligente, Humana e Criativa (AIHC), da Secretaria Municipal da Indústria, Comércio e Turismo (Semict), Ricardo Mascarello, apresentou minuciosa palestra na manhã desta sexta-feira, 24, na Escola de Governo e Gestão Pública (Esgap). Um relato de três visitas que fez a essas cidades nos anos de 2013 e 2014, que transformaram sua visão sobre o papel da arquitetura e urbanismo nas dinâmicas das cidades.

O diretor da Esgap, Bosco Rolemberg, abriu o evento falando do papel do órgão na formação dos gestores públicos municipais e a importância da vinculação da palestra sobre as experiências de Medéllin e Bogotá com o programa Aracaju Inteligente, Humana e Criativa. "Há uma polêmica em achar que um programa de cidade inteligente vai transformar os cidadãos em robôs e não é isso. O foco, na verdade, é as pessoas, os direitos dos cidadãos e a participação deles na vida da cidade", disse, lembrando que em 2013 Medéllin foi escolhida a cidade mais inovadora do mundo em uma competição realizada pela ONG americana Instituto Urban Land.

Foi o ponto de partida para que Ricardo iniciasse sua apresentação explicando que as transformações em Medéllin foram consequência de um planejamento urbano integrado, pautado no conceito de urbanismo cívico, que tem como pilares o engajamento e colaboração entre todas as esferas da sociedade, incorporando o conceito de uma cidade que educa através de sua dinâmica e relações do cotidiano; do amor dos cidadãos pela cidade; do compromisso cidadão e do urbanismo democrático, elegendo as pessoas como prioridade nas intervenções. "Toda essa revolução urbana desencadeou a apropriação dos espaços públicos através de atividades da arte e da cultura, como por exemplo, o cinema ao ar livre, na Praça dos Deseos, tradicional epicentro de Medéllin", sintetizou.

Segundo Mascarello, um momento que o emocionou em Medéllin foi conhecer a beleza arquitetônica da Biblioteca Fernando Botero e o contato que teve com arquitetos da Empresa de Desenvolvimento Urbano (EDU) de lá. No encontro, discorreu sobre a estética e grandeza da obra quando um dos arquitetos lhe disse que "o verdadeiro sentido da arquitetura é como um edifício pode transformar a realidade", uma riqueza conceitual sobre o papel da arquitetura no urbanismo que impressionou Mascarello. "O sentimento foi de grande emoção e se traduziu em uma compreensão que a arquitetura não se fecha nela mesma e seu grande significado são as transformações sociais que ela pode conceber", disse, visivelmente emocionado.

Acrescentou que essa transformação, originada nos anos 90, foi protagonizada "por uma articulação social entre universidade, empresários e as comunidades". Mencionou vários equipamentos sociais que transformaram a dinâmica urbana da cidade, dando destaque aos Parques Bibliotecas, com o propósito de se transformarem em centros de atração de educação e cultura, e as Unidades de Vida Articulada (UVAs), que aproveitam o espaço público em comunidades carentes para instalação de equipamentos de esporte, lazer e arte.

No viés da economia, Mascarello registrou as transformações havidas em Medéllin e que despertaram interesses do setor empresarial em investir na cidade "pela confiança na gestão, nas intervenções e pela participação das comunidades no processo". E enalteceu a visão de sustentabilidade, planejamento e o cuidado com as questões ambientais da governança colombiana, citando o projeto "Rio Medéllin", ainda em desenvolvimento, que propõe regenerar a infraestrutura verde e hídrica dentro do espaço urbano, com túneis submersos e recuperação de matas ciliares. O rio Medéllin tem uma extensão de 51 Km e o horizonte de execução dessa obra é para o ano de 2050.

Uma palestra de cerca de duas horas que impressionou pela riqueza das ilustrações e detalhes arquitetônicos e urbanos, a segurança do palestrante com o tema, a consistência e efetividade das ações transformadoras na Colômbia, e a reflexão que essas experiências podem servir para a construção do programa Aracaju Inteligente, Humana e Criativa. "Nosso propósito não é copiar as experiências de Medéllin, porque cada cidade, cada povo, tem suas características econômicas, sociais, culturais e filosóficas. Nosso propósito é refletir sobre as mudanças que houve na Colômbia e avaliar o que podemos adaptar em nosso programa", finalizou.

Participaram da apresentação os secretários municipais Carlos Cauê e Jorge Santana, do governo e da indústria, comércio e turismo, respectivamente; Marcos Monteiro, representante do Banco do Brasil; e servidores da Semict, Segov, SMS, Semdec, Sema, Fundat, Guarda Municipal, Defesa Civil, Procon e Aracaju Previdência, totalizando 52 participantes.