Núcleo de Produção Digital começa a resgatar audiovisual em Aracaju

Agência Aracaju de Notícias
24/04/2017 09h45

Mais de uma década se passou desde que o Núcleo de Produção Digital (NPD) Orlando Vieira foi criado. Em 2006, ainda na primeira gestão do prefeito Edvaldo Nogueira, o local foi estruturado para abrigar e fomentar a produção audiovisual não só de Aracaju, mas de todo o estado. Agora, passado esse período, o núcleo tem o desafio de se reinventar e reerguer a base que norteou o projeto da sua criação: a disseminação da cultura e arte sergipanas por meio das telas.

O núcleo teve sua primeira sede instalada na rua Lagarto, bairro São José, e Sergipe foi o primeiro dos 11 estados brasileiros que, na época, foi selecionado para participar da Rede Olhar Brasil - um programa federal do extinto Ministério da Cultura (MinC) - com seu núcleo próprio. Na ocasião, um investimento maciço em equipamentos e ações de formação contemplou um projeto que tinha como objetivo levar a produção audiovisual sergipana a atravessar divisas e fronteiras.

Além de fomentar a produção independente de Sergipe, o espaço foi instituído para capacitar novos realizadores para o audiovisual, requalificar os que já estavam no mercado e promover a inclusão digital de jovens. No entanto, passados alguns anos de intensa produção, desde 2013 o núcleo ficou esquecido pela gestão municipal.

Segundo a coordenadora do NPD, Carol Westrup, na época começaram a circular rumores sobre o fechamento do espaço. "O núcleo permaneceu, porém, sucateado, assim como a parte da Cultura como um todo", revelou Carol.

Nova perspectiva

Durante os anos seguintes, o núcleo perdeu sua sede própria, engavetou projetos e equipamentos ficaram inutilizados por falta de investimento. No final do mês de 2014, com a inauguração do Centro Cultural de Aracaju, o NPD mudou de sede e passou a se instalar naquele que era o antigo prédio da Alfândega. Com a mudança, mesmo com a redução do espaço em que o núcleo funcionava, as expectativas com relação ao futuro ainda eram e são grandiosas.

Hoje o prédio abriga o sonho de expansão de um audiovisual que é produzido em Sergipe desde a década de 1950 e, pelos últimos quatro anos, foi abandonado. "Agora em 2017, temos um outro olhar para as atividades do núcleo, pois estamos tendo uma resposta positiva por parte da atual gestão de Aracaju. Em termos de projeção de imagem, nós temos o melhor cinema de Sergipe, nem os multiplex conseguem atingir a qualidade de imagem que a gente tem de projeção. Só que as pessoas não sabem que existe. Entendemos que a sala de exibição não é da Prefeitura, é pública, mas só damos valor àquilo que sabemos que existe", ressaltou Carol.

O núcleo funciona com duas propostas principais. A primeira é trabalhar com formação que, neste quesito, está se reestruturando esse ano, através da aquisição de equipamentos e realização de convênios. O segundo importante papel é a formação de público. Enquanto os cinemas têm uma vertente comercial e trabalham com circuito de filmes nacionais, o NPD é a janela por onde passam os curtas sergipanos.

"Mas a gente tem um grande problema. Os documentários são produzidos, mas acabam sendo engavetados porque não há onde passar. É o núcleo, através da sala de exibição, que vai fazer com que as pessoas assistam, de forma gratuita, curtas produzidos aqui em Sergipe, sobre a nossa gente, fortalecendo a nossa identidade. O audiovisual também é uma ferramenta de inclusão, de protagonismo, de emancipação, e o núcleo é o único equipamento público que pensa no audiovisual aqui no estado", frisou a coordenadora do NPD.

Um novo olhar para o futuro

Novas expectativas surgem com a nova administração municipal. Com uma sala de exibição com 89 lugares, som digital 5.1 e capacidade para exibir filmes HD e 3D, o NPDOV iniciou o ano dando os primeiros passos para a concretização daquilo que, até pouco tempo atrás, estava guardado no campo do imaginário.

Neste ano, somente nos primeiros três meses já foram realizadas diversas atividades. A Mostra de Cinema Sergipano "Meu povo, meu chão", a Mostra "Semeando Sorrisos" que homenageou Marcelo Déda, a Mostra "Aracaju Como Eu Vejo", como parte das comemorações pelo aniversário da capital, e o lançamento do filme Câmara de Espelhos, da diretora pernambucana Déa Ferraz, foram algumas exibições já feitas.

"Temos que deixar claro que há potencial para fazer muita coisa rica na área do audiovisual, afinal, só pela nossa sala de exibição, já temos um importante aparato. Hoje, temos outra visão das nossas possibilidades, pois sentimos que há uma nova expectativa e uma nova construção para a cultura sergipana, além de uma empolgação por parte das pessoas que fazem o audiovisual por aqui. Por isso, continuamos a acreditar nesse projeto", completou a coordenadora do núcleo.

Orlando Vieira, uma história que dá nome ao núcleo

Um dos primeiros trabalhos do NPD neste ano foi homenagear aquele que deu nome ao núcleo, mais do que isso, contribuiu e continua colaborando com a arte em Sergipe. Aos 86 anos, Orlando Vieira ainda respira arte e inspira centenas de jovens que, assim como ele, decidiu se entregar à paixão pelo cinema.

Nascido em Capela, Orlando Vieira é técnico em desenho, passou pelo seminário para ser padre e, em 1948, quando saiu de lá, se tornou funcionário público, percorreu vários estados do Brasil, fugiu da ditadura militar e somente aos 42 anos decidiu ser ator. Foi em 1982 que ele ganhou um destaque ainda maior quando o longa-metragem Sargento Getúlio veio ser filmado em Sergipe.

Após outras tantas realizações, em 2006, em seu primeiro mandato como prefeito, Edvaldo Nogueira decidiu fazer uma homenagem a quem estava vivo na memória sergipana e deu ao núcleo de produção o nome de Orlando Vieira. "Ele foi de uma sensibilidade enorme, achou de premiar um artista da terra e, evidentemente, eu estava na lista e peguei essa premiação de receber o núcleo de produção com o meu nome. Edvaldo Nogueira foi genial. Abriu o núcleo, montou totalmente do necessário, uma verdadeira primeira escola", considera Orlando Vieira.

Questionado sobre a importância do NPD, Orlando Vieira aposta nas novas gerações para o resgate do audiovisual. "Estou aposentado, mas estou vibrando com esses novos atores e multiplicadores do audiovisual. Com oportunidade, a moçada sempre mostra maior interesse e maior produtividade, e assim o núcleo continua de pé e vai melhorando a oportunidade de um número maior de verdadeiros artistas", completou.