Prefeitura estimula debate e conscientização sobre racismo nas escolas

Agência Aracaju de Notícias
06/07/2017 08h30

‘Você já ouviu falar sobre racismo? Alguém já colocou um apelido em você? Qual foi sua reação?'. Esses são apenas alguns dos questionamentos feitos pelos representantes da Diretoria de Direitos Humanos da Secretaria Municipal da Assistência Social, nas salas de aula de escolas públicas da rede municipal. A iniciativa faz parte de uma das ações do ‘Projeto Lápis de Cor - Ciclo de Diálogos sobre Racismo na Infância', desenvolvido em parceria com a Coordenadoria de Políticas Educacionais para Diversidade da Secretaria Municipal da Educação (Semed).

Desde o início do ano, discussões relacionadas à discriminação racial são feitas nas unidades de ensino. Para a professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Freitas Brandão, Adriana Guimarães, o projeto é importante porque incentiva os alunos a refletirem sobre o preconceito racial.

"Essa ação faz com que os alunos entendam sobre os direitos e deveres que todos nós temos. Os pais precisam discutir sobre esse assunto, pois eles lidam com vários tipos de discriminação. Na maioria das vezes, essa discriminação vem em forma de brincadeira, mas não é. E eles tendo esse conhecimento, vão poder lidar com melhor com esse tipo de situação", afirmou.

Segundo a gerente de Igualdade Racial da secretaria, Laila Oliveira, as crianças estão em constante formação de identidade e precisam de referências. "As crianças não têm tanta segurança do que estão falando nessa fase da vida, elas não sabem de fato de como estão agindo. Por isso, temos que levar explicação sobre o racismo. A gente mostra exemplos de pessoas negras em destaque no país que os alunos conheçam para que eles enxerguem o potencial", destacou.

A gerente de Igualdade Racial aproveitou para fazer um alerta. "É importante que cada unidade de ensino promova debates sobre o tema. A gente está aqui como mediador, como provocador da discussão. A discussão é conduzida pelos alunos, através do olhar deles. São eles que vão apontar como enxergam o preconceito, de que forma o racismo está presente na vida dos mesmos. Nós orientamos, mas é importante que o assunto seja recorrente em sala de aula", acrescentou.

Mainara Cristina do Espírito Santo, de 11 anos, participou de uma dessas visitas feitas pelo pessoal da Assistência, e garante que foi proveitosa.  "Foi bem legal porque nos deixou mais segura. A moça falou sobre racismo, bullying e preconceito. Aqui na sala, a professora ensina a gente a respeitar o próximo. Ela disse que não pode falar mal ninguém e que a gente precisa respeitar a privacidade do outro", explicou a aluna.

O racismo ainda se faz muito presente nos dias atuais. Ele é identificado de várias formas, seja na escola, na rua ou até mesmo em casa. "A maioria das crianças da rede pública é negra. Essas crianças afirmam que sofrem racismo constantemente, é muito triste. Às vezes, é uma tia que fala do cabelo, do nariz, da boca. A gente percebe que o problema está muito aprofundado, muito enraizado. O racismo é tão cruel que as próprias crianças negras reproduzem o racismo entre elas porque o racismo faz isso, faz com que negros odeiem negros", lamentou a gerente de Igualdade Racial, Laila Oliveira.

Eberty Ryan Santos tem 10 anos de idade e é aluno do 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Freitas Brandão. Ele conta que nunca foi apelidado por ninguém, mas já presenciou colegas sendo alvo de preconceito. "Isso é muito chato. Não é legal colocar apelidos nas pessoas porque as pessoas não gostam e às vezes coloca até o nome da mãe no meio. Eu acho isso feio. Falei até pra os meus amigos de lá da rua. As pessoas precisam mudar o pensamento", contou.

Projeto

O projeto é voltado somente para alunos do 5º ano do Ensino Fundamental e está sendo desenvolvido de acordo com os princípios da campanha ‘Impactos do Racismo na Infância' da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Mais de dez escolas receberam a visita dos representantes do Ciclo de Diálogos.

Segundo a coordenadora de Políticas Educacionais para Diversidade da Semed, Maíra Ielena Cerqueira, o ‘Lápis de Cor' é um projeto diagnóstico. "A partir desse projeto, teremos ao fim do ano letivo de 2017, um raio-X que nos permitirá traçar projetos pedagógicos e ações educativas voltadas à Educação para Relações étnico-raciais", pontuou.